sábado, 6 de dezembro de 2008

serra

Foi a serra de Monchique, a mais alta do Algarve, que me fez ver estas mulheres-ovelha. Seres surpreendentes, como sereias, que ondulavam nos seus caracóis próprios como se ondas de um mar fossem. Uma tonalidade múltipla, uma alcateia de tonalidades ia-lhes na voz. Foi ao cair da tarde... Era Verão e a tranquilidade das altaneiras serranias revigorante, como nas escaladas de Zaratustra contadas por Nietzsche

...

No meridiano invisível prometi-te poemas... e concretizei os meus sonhos sem medo

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

acima

aconteceu uma vez quando a lua estava azul
Acima do paralelo invisível estavam galhos escuros que contrastavam com a claridade dos teus olhos.
Não quis saber e afastei-me, deixei-me levar...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Montpellier, Dubrovnik, Reykjavík


Na tela da parede, os teus olhos não paravam de se reflectir. Como se de um sonho se tratasse.
Eu vinha de Montpellier, ao abrigo de uma baía mediterrânea para onde tinha fugido do vento islandês. E Dubrovnik estalou-me repentinamente no ermo dos ouvidos.
O seu grito lembrou-me os teus olhos morosos, molhosos.
E, claro, choveu! Choveu tanto.
Quando deixei de querer estar perdido no cair do dia, ao erguer da sombra húmida junto aos tufos de vegetação, era já muito tarde, muito noite.
Voltei ao caminho.
O musgo à beira da estrada era um aglomerado de olhos, dos Teus, bem frescos.
Outra vez os teus olhos... Como na parede, como no chão, na mesa ou no restaurante mas ... mas como, como se comesse os teus...
Olha! Se eu os comesse mesmo?

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Amanhã vou ao céu (foi ontem, em Outubro)

O céu está azul. uma chaminé é projectada contra a parede de um prédio. é o sol quem projecta a chaminé e pinta o céu. o chorão não se move e está verde. há antenas nos telhados como girassóis. o dia é calmo. calmo como o céu.
A manhã voou ao céu. tu ficaste deitada. soube-o sem te ver. adivinhava-te. ainda deitada enquanto a manhã voou ao céu. amanhã vou eu (foi ontem, em Outubro).

quarta-feira, 9 de julho de 2008

joyce

Na tua boca, como um molusco, ouso ser a língua
que promete saber nadar

terça-feira, 17 de junho de 2008

O DEDO

Tirei a mão de cima da tua pele
Os meus dedos ficaram lá
Marcados
Assinatura dos meus dedos nas tuas costas
Parágrafo de dedadas
Dentadas nas tuas coxas deitadas
Por esse corpo fora parto
Disto e dispo
Disco dentro de ti
45 rotações por cada dez segundos
Dentro de ti
Como és bonita por dentro tu
O teu sangue vermelho
A tua carne rosada
E eu

sexta-feira, 30 de maio de 2008

A ÁGUA

Gota de água. orvalho incandescente
Cai. rola lentamente
Pelas encostas da tua face

De espelho nos olhos
vejo-te
Cara a cara
no rastro que a lágrima tem

Pista de azedume
num breve slalom de alegria
a água queima-te o rosto

Cascata epidérmica
pupila irrisória
Íris de pupila: papoila-púbis
Catarata de risos

Queda de beijos

As mulheres-ovelha

as mulheres-ovelhas

Tinham todas corpo de ovelha e cabeça de mulher. com uma cara branca e lábios cor-de-rosa. e baliam como as ovelhas fazem. era um rebanho de vozes de mulheres afinadas pelo medo do crepúsculo.

O vento agitava-lhes os brancos caracóis na cabeça e no corpo. assobiando ao som da melodia do canto das mulheres-ovelha.

domingo, 18 de maio de 2008

sábado, 17 de maio de 2008

Para ti meu amor



POUR TOI MON AMOUR

 

Je suis allé au marché aux oiseaux

Et j'ai acheté des oiseaux

Pour toi

mon amour

Je suis allé au marché aux fleurs

Et j'ai acheté des fleurs

Pour toi

mon amour

Je suis allé au marché à la ferraille

Et j'ai acheté des chaînes

De lourdes chaînes

Pour toi

mon amour

Et puis je suis allé au marché aux esclaves

Et je t'ai cherchée

Mais je ne t'ai pas trouvée

mon amour

 

Jacques Prévert

 

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Publicado em 2002

o livro, no entanto, vive a sua vida. Aliás, começou a nascer, num processo de nascimento individuante (como acontece com todos os nascimentos), alguns dez ou quinze anos antes. Por isso é bom que possa viver e amadurecer muitopara lá da data da sua publicação. É essa, afinal, a única justificação de publicar seja o que for – «la durée».